Um adolescente tímido, calmo, caseiro e apegado aos familiares. Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, de 13 anos, o filho único do casal de policiais militares Luis Eduardo e Andréia Pesseghini, costumava ser descrito dessa forma. No entanto, nesta terça-feira (6), o jovem passou a ser o principal suspeito damorte dos pais, da avó e da tia-avó, na Brasilândia, zona norte de São Paulo. Na versão da polícia, ele se suicidou cerca de 12 horas depois.
O jovem estudava em uma escola particular, também na zona norte da capital. Professores o consideravam um bom aluno. Pelo Facebook, uma professora de Marcelo fez um desabafo. "Está sendo muito difícil... uma dor que não se explica... dei aula para ele hoje, conversei, brinquei, dei risada, dei um abraço tão gostoso... e agora... acabou”, escreveu ela, após saber da notícia.
Marcelo sofria de uma doença congênita, a fibrose cística, que não tem cura e afeta o sistema respiratório. Médicos teriam dito aos pais que o menino dificilmente chegaria aos quatro anos de idade. Mas ele respondeu bem ao tratamento e completou 13 anos em junho. O garoto também tinha diabetes e fazia uso de insulina.
Os corpos dos pais e do garoto foram enterrados em Rio Claro, no interior do Estado, no fim da tarde de terça-feira (6). A avó e a tia-avó foram sepultadas em um cemitério na capital paulista.
Armas e jogos violentos
Quando chegava da escola, Marcelo passava horas no computador. No perfil que tinha no Facebook, a foto dele era de um personagem de um jogo de videogame que gostava, que é um dos protagonistas de uma seita de assassinos em busca de vingança, na época da Renascença. O jogo é recomendado para maiores de 18 anos.
O delegado Itagiba Vieira Franco, da Divisão de Homicídios, esteve no local do crime. Ele disse que achou diversas armas de brinquedo e de pressão no quarto do garoto.
— No quarto dele, nós encontramos uma grande quantidade de armas de brinquedo. Ele teve a capacidade, talvez espelhando-se no pai, de montar um colete artesanal, de papelão, tipo escudo do choque. E também um tipo de coldre, de ombro, que ele montou inteiro, com fitas e com papelão, com lugar para pôr a arma.
O comandante da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira, afirmou que o rapaz costumava atirar com a arma de pressão.
Versão da polícia
Para as polícias Civil e Militar, entre o fim da noite de domingo (4) e a madrugada de segunda-feira (5), o adolescente assassinou os pais na sala da casa onde moravam. Depois, teria ido à casa da avó, no mesmo terreno, onde ela estava com a irmã, que a visitava frequentemente. As duas também foram atingidas por tiros na cabeça, possivelmente, durante o sono. Em seguida, as investigações indicam que ele pegou o carro da família, pouco depois de 1h, e foi até a rua da escola particular onde estudava, a cerca de 5 km da residência. Ele ficou dentro do veículo por aproximadamente quatro horas.
Câmeras de segurança de um prédio próximo ao colégio flagraram Marcelo saindo do carro, por volta de 6h20. Com uma mochila nas costas, ele aparece caminhando sozinho pela calçada. Naquela manhã, o jovem foi à aula normalmente e ao sair pegou carona com o melhor amigo e com o pai dele.
Já dentro do carro, o adolescente disse ter visto o carro da mãe e que iria falar com ela. Saiu, buscou algo e voltou. Ele foi deixado em casa no começo da tarde. A polícia acredita que Marcelo tenha cometido suicídio por volta das 13h. O corpo dele estava na mesma sala onde o pai e a mãe foram mortos.
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Amigo
Considerado uma testemunha importante no caso, o melhor amigo prestou um depoimento que foi esclarecedor para a polícia, de acordo com o delegado Itagiba Vieira Franco. “Sempre me chamou para fugir de casa, alegando que tinha o sonho de ser um matador de aluguel. Tinha um plano: matar os pais durante a noite, quando ninguém soubesse, fugir com o carro dos pais e morar em um local abandonado”, diz o depoimento. O delegado ainda acrescentou que ele manifestou essa vontade ao amigo repetidas vezes.
Família
Familiares de Luis Eduardo e de Andréia não acreditam na versão apresentada pela polícia. Um parente, que não quis ser identificado, disse que o menino seria “incapaz” de cometer os crimes.
— Uma criança doce, superinteligente, incapaz de fazer mal a qualquer ser humano.
Irmão do sargento, Fábio Pesseghini acredita que Luís Eduardo reagiria.
— Isso não existe [versão de que menino matou]. Um cara que tem 20 anos de polícia não ia deixar ser atingido por uma criança.
Questionado sobre as razões da polícia de sustentar a versão de que os PMs foram mortos pelo menino, ele disse que "não sabe se é politicagem da Secretaria de Segurança Pública, do DHPP, de quem seja". Disse ainda que os familiares não tinham informações de ameaças.
Investigações
Apesar de a polícia acreditar que a autoria dos crimes já tenha sido descoberta, as investigações continuam. O objetivo é saber se Marcelo teve ajuda de uma segunda pessoa para cometer o crime. Os investigadores também aguardam laudos da perícia. O inquérito ainda não tem data para ser concluído.